Suplementos Concentrados na Alimentação de Equinos

 

        Os alimentos concentrados são aqueles que apresentam menor quantidade de fibras e maior quantidade de energia e/ou proteína. Normalmente estão representados pelos cereais como o milho e aveia e por sementes de oleaginosas.

        Os grãos de cereais se destacam por alto teor de amido e médios conteúdo de proteína e gordura médios. Contem baixa quantidade de fibra, ao redor de 2 – 5%, com exceção da aveia que chega aos 10%. Todos os grãos de cereais apresentam pequenos conteúdos de cálcio e médios de fósforo e magnésio, além de que os farelos apresentam conteúdos significativos de oxalatos, o que predispõem às descalcificações quando não corrigidos na dieta. As vitaminas normalmente as mais abundantes são a vitamina E e vitaminas do complexo B (exceto B12).

As sementes de oleaginosas, como a soja, são ricas em proteínas e em gordura.  Após A extração do óleo pela indústria, o produto utilizado na alimentação animal como fonte de proteína são os farelos que podem atingir até 45% do conteúdo em proteína. Os conteúdos de minerais e vitaminas são bastante próximos aos grãos de cereais. a principal característica a ser avaliada no suplemento protéico é a qualidade da proteína, representada pelo conteúdo de lisina (Lys) que é um aminoácido essencial para o crescimento e formação muscular.

 

Alimentos ricos em amido (energéticos)

Milho

        O grão do milho (Zea mays) é conhecido por conter uma boa porcentagem de extrato etéreo, sendo muito energético, além de ser bastante palatável aos equinos. No entanto, seu uso exagerado ou inadequado está associado à síndromes cólicas nos equinos, por ser altamente fermentado e liberar energia rapidamente. O milho deve ser oferecido em pequenas quantidades, sempre de qualidade, bem estocado e sem crescimento de fungos. O milho que contém micotoxinas pode levar ao quadro nervoso de leucoencefalomalácia e levar os animais à morte. Outro problema associado ao uso do milho é o desequilíbrio na relação cálcio-fósforo que ele apresenta. O correto é uma relação ao redor de 2:1, no entanto o grão de milho apresenta muito mais fósforo do que cálcio. Para equilibrar essa proporção, o cavalo acaba retirando cálcio dos ossos para liberar no sangue, tornando-os mais porosos e frágeis. Um dos sinais observados é a chamada “cara inchada”, pois os ossos da face são os primeiros a ser afetados pela doença, chamada também de hiperparatireoidismo nutricional secundário. Esse problema pode ser evitado fornecendo cálcio ao cavalo que recebe muito milho, normalmente na forma de calcita, junto com a alimentação.

Milho em grãos:
        Embora possa ser fornecido inteiro aos cavalos, sem perda significativa de digestibilidade, não é recomendado por desgastar excessivamente os dentes a longo prazo e também pela possibilidade de irritar a mucosa do palato duro do animal, provocando uma palatite, popularmente conhecida como travagem.


Quirera de milho:
        O grão de milho moído, ou quirera, possui as mesmas qualidades do milho em grão, porém sendo de mais fácil mastigação.

Rolão de milho
        O rolão de milho, apesar de bastante utilizado, possui fama de ser “fraco” e causar cólicas. Isso é verdade se comparado com o valor energético do grão de milho, e quando mal conservado. No entanto, se utilizado corretamente, pode ser uma fonte de alimentação concentrada relativamente barata e que pode ser produzida na propriedade ou adquirida nos arredores. O rolão é a espiga de milho, junto com a palha, triturado.

 

Aveia

        Historicamente, a semente da aveia foi muito utilizada na alimentação de equídeos, pelas suas qualidades energéticas e por ser bem aceita pela maioria dos animais, perdendo apenas para o milho na preferência. Ainda é o grão mais utilizado na equideocultura. Contém menor conteúdo de energia do que o milho e presenta boa quantidade e qualidade de proteínas se comparado com outros grãos. O grão de aveia é fornecido com casca, o que acrescenta neste alimento concentrado a fibra necessária para o trânsito gastro intestinal. Para facilitar a digestão enzimática dos nutrientes da aveia, antes de ser oferecida aos animais, pode ser prensada (laminada ou achatada) ou deixada de molho durante algumas horas antes de ser utilizada (germinada ou “molhada”). Não há grande diferença de digestibilidade entre a aveia achatada ou molhada.

        Existem duas espécies mais comuns no Brasil: a aveia branca (Avena sativa) e a preta (Avena strigosa). A principal diferença são o tamanho dos grãos, que são menores na aveia preta e maiores na aveia branca, embora a qualidade nutricional não varie muito quando avaliadas pelo peso. Existe maior variabilidade de acordo com a quantidade de casca presente.

 

Aveia branca Aveia preta

 

Cevada

        A semente da cevada (Hordeum vulgare) é o terceiro cereal mais utilizado na alimentação dos cavalos, sobretudo na Europa. No Brasil é produzido apenas no Sul, devido às condições climáticas. Possui teor energético intermediário entre o milho e a aveia, possui mais amido do que a última. A proteína é de boa qualidade, embora inferior à aveia. É bem aceita pelos equinos após o período de adaptação.

        Embora seja comum o fornecimento de polpa de cevada aos bovinos, subproduto das cervejarias, aos equinos o risco de fermentação é muito elevado e o mais comum é o oferecimento de grãos, quando não atingem a qualidade necessária para a produção de cerveja. Devido à sua dureza, os grãos não devem ser oferecidos sem antes serem prensados ou quebrados. O farelo de cevada não é bem aceito pelos equinos pelo sabor amargo, a não ser quando oferecido conjuntamente com melaço. Quantidades elevadas de cevada na dieta estão associadas à maior incidência de laminite (aguamento), provavelmente devido ao maior teor de energia (1 kg de aveia equivale a cerca de 0,9 kg de cevada).

 

Trigo

        O trigo (Triticum aestivum) é uma gramínea cultivada em todo o mundo, cuja origem remonta há mais de 8.000 mil anos atrás, no Oriente Médio. Quando fornecido em grãos, devido ao baixo teor de fibra bruta e presença de proteínas insolúveis que possuem a capacidade de absorver água e apresentar viscosidade, corre-se o risco de formação de uma massa pouco solúvel no estômago, com consequequências possivelmente graves. As pós-farinhas ou farinhas de trigo, obtidas da produção de farinha de trigo, possuem as mesmas características dos grãos, podendo somente ser fornecidas de uma forma muito limitada.

        O subproduto do processo de confecção da farinha mais utilizado é o farelo de trigo . É constituído pelo pericarpo do grão de trigo, que durante o beneficiamento, a casca precisa ser separada do albúmen e é exatamente essa porção mais externa que forma o farelo de trigo. Por conter uma porção muito pequena de albúmen, atinge teores de fibra bruta de 10-15% e não forma massas pegajosas com tanta facilidade.

Farelo de trigo

 

Centeio

        O centeio (Secale cereale) é cultivado para a produção de grãos e forragem em larga escala. Os indícios mais antigos apontam que foi cultivado inicialmente no norte da Síria, sendo uma gramínea muito resistente a solos ácidos e secas, embora não tanto ao frio. Possui parentesco com o trigo e isso explica que possua características semelhantes. Assim como os grãos de trigo podem provocar anormalidades digestivas pela presença de proteínas pegajosas no albúmen, também os grãos de centeio não devem ser oferecidos em grande quantidade aos equinos, porém são considerados mais seguros que os grãos de trigo. As farinhas e pós-farinhas apresentam o mesmo problema. O farelo de centeio é bem mais seguro, por ser composto principalmente pelas cascas e camadas externas do grão, contendo assim maiores quantidades de fibra bruta. Porém, sua significância na alimentação dos equinos é limitada, sendo que o farelo de trigo é muito mais utilizado.

Farelo de centeio

 

Arroz

        O arroz (Oryza sativa) é um dos grãos mais produzidos e consumidos no mundo. Sua origem provavelmente é da Ásia, onde existem registros de cultivo na China ao redor de 2.800 a.C. O arroz não é comumente oferecido aos equinos de forma separada, porém é bastante encontrado nas rações comerciais. A casca de arroz não possui alto valor nutricional e apresenta oxalato e silicato, que podem prejudicar a absorção de cálcio e provocar lesões no estômago.

 

Óleos (energéticos)

        Todos os óleos de origem vegetal são utilizados como fonte de energia na alimentação de cavalos. O conteúdo energético dos óleos vegetais é até 2,5 vezes maior que o do amido, além do que são ricos em ácidos graxos essenciais comercialmente denominados Ômega 3 e Ômega 6. Os óleos de soja, milho, arroz, canola, girassol são bem aceitos, quando misturados a outros concentrados, e apresentam ótima digestibilidade.

 

Alimentos ricos em proteína (protéicos)

Leite

        O leite é a fonte mais nobre de proteína aos animais. O leite de vaca "in natura" pode ser utilizado como complemento para potros, por meio da sua adição com outros alimentos concentrados como a aveia, por exemplo. O leite em pó também pode ser utilizado, mas o custo é o maior entrave na utilização deste nobre alimento. O melhor alimento para potros lactentes (ao pé) é o leite da mãe, assim a dieta da égua parida deve ser a melhor possível a fim de maximizar a produção de leite disponiblizada ao potro.

 

        As fontes vegetais de proteínas são de fácil fornecimento e bem aceitas pelos cavalos. Assim, são os principais alimentos utilizados na suplementação protéica. Os farelos, produtos residuais da extração de óleos dos grãos oleaginosos, são utilizados como suplementos proteícos puros ou utilizados na indústria, em conjunto com os energéticos, na formulação de concentrados balanceados ("racões" comerciais).

 

Soja

        A soja (Glycine max) é a principal fonte de proteínas de origem vegetal para os equinos e outras espécies domésticas. Originária da China, essa leguminosa é amplamente cultivada no Brasil, que é o segundo maior produtor. Nunca se deve oferecer soja crua para os cavalos, pois esta é tóxica pela presença de um inibidor de tripsina, porém apresenta maior segurança quando utilizado após os grãos serem tostados. A soja possui proteína em abundância e de qualidade superior, com grande proporção de lisina e metionina e bom equilíbrio dos outros aminoácidos. É importante especialmente na alimentação de potros em crescimento, éguas gestantes (principalmente no terço final) e em lactação.

        Normalmente é oferecida na forma de farelo de soja, subproduto do processo de beneficiamento da soja para extração do óleo pela indústria. O óleo bruto passa por um processo de refino até assumir propriedades ideais ao consumo como óleo comestível, enquanto que o farelo de soja é utilizado praticamente em todas as rações comerciais. O farelo de soja tostado apresenta de 45 a 51% de proteína bruta, é um alimento muito utilizado para complementar a dieta dos equinos quanto aos requerimentos de proteína. O óleo de soja, assim como outros óleos vegetais, pode ser utilizado como fonte de energia para os cavalos.

 

Linhaça

 

Algodão

 

Girassol

 

Canola

 

Amendoin

 

Levedura seca de cana

    Cada litro de álcool produzido deixa como resíduo 30g de levedura (Sacharomyces cerevisiae), em base seca, após a fermentação do caldo de cana. Como o Brasil produz, anualmente, mais de 15 bilhões de litros de álcool, a produção estimada de levedura é de 450 mil toneladas. Quando não desprezada, a levedura é vendida in natura para ração animal.

 

 

Texto por Louise Tezza

Fontes:

LEWIS, Lon D. ALIMENTAÇÃO E CUIDADOS DO CAVALO. Rocca: São Paulo, 1985

MEYER, Helmut. ALIMENTAÇÃO DE CAVALOS. 2a edição, Livraria Varela: São paulo, 1995

PILLINER, Sarah. NUTRICIÓN Y ALIMENTACIÓN DEL CABALLO. Editorial Acribia, S.A: Zaragoza (Espanha), 1995